Entrevista com o grafiteiro chileno Matias

Matias e Pinda (E) no Mutirão Pinta Aí da crew 91

Matias e Pinda (E) no mutirão Pinta Aí da crew 91

No dia 10 do mês de outubro deste ano, conhecí o chileno Matias Agustin Madrid Pinto, através do amigo italiano Carlos Loria, durante as comemorações dos 10 anos da crew Nova10ordem, no Espaço Mubanba Bar, Rio Vermelho.

Carlos Loria e Matias

Carlos Loria e Matias

Apesar da nossa conversa ter sido muito rápida, fiquei sabendo da sua recente chegada a Salvador, além de ser informado também que era o autor das novas intervenções urbanas, um símbolo estilizado, sob a forma de sticker (adesivo), lambe-lambe (colagem), stencil e grafite, encontrados em vários pontos da cidade.

Matias e este blogueiro com o símbolo estilizado

Matias e este blogueiro com um adesivo do símbolo estilizado

O meu interesse sobre o assunto resultou na entrevista com o estudante de arte Matias, como gosta de ser chamado, 25, nascido em Viña del Mar (uma belíssima cidade litorânea) no Chile.

Matias no Bourbon Café, Shoping Barra: conferindo a pauta da entrevista

Matias no Bourbon Café, Shoping Barra: conferindo a pauta da entrevista

 

Como foi o seu início com a arte?

Desde pequeno gostei de brincar de desenhar. Algumas vezes até fui para a rua fazer algumas coisas, mais só agora que decidir me dedicar à pintura urbana.

Qual o artista que lhe influenciou?

Na verdade os artistas contemporâneos, como por exemplo, os baianos Marcos Costa e Manoel Mariano, os paulistas “Os Gêmeos” e a galera internacional como Feral dos EUA, Blu da Itália e Invader da França. Fico observando e estudando os seus estilos, cores e a partir daí vou desenvolvendo o meu trampo tomando por base essas informações.

Qual o significado do seu desenho ou marca?

Não é uma marca. É o desenho de um símbolo simples que representa uma casa inacabada. Escolhi um deles que me chamou atenção durante a leitura de um livro com vários símbolos da África.

E qual foi o símbolo que lhe chamou atenção?

O Wehwenudua, que significa bastão da procura ou de medida, símbolo da excelência, da perfeição, do conhecimento e da qualidade superior. Ao finalizar o trabalho da reprodução gostei muito do resultado. Percebi que da parte que cortei saiu uma forma que se assemelhava a uma casa mal feita. Daí surgiu à ideia de usar esse símbolo para representar o povo, ou seja, a população pobre do mundo que não tem onde morar.

Isso tem a ver com uma visão ideológica?

Não tem nenhuma conotação ideológica e nem política. Apenas percebo que algumas pessoas preferem não se preocupar com a pobreza. Esses seres humanos são esquecidos. Como também seus problemas. São excluídos. A maneira que encontrei de representá-los nas minhas intervenções foi através desse símbolo. Mas, saliento que é importante esclarecer que ninguém é melhor do que a outra pessoa. Todos nós somos iguais e estamos representando esse povo pobre. Enfim, estou representando a todos também. A grande diferença é que temos condições e eles não.

E a vinculação do nome de Jean-Michel Basquiat no seu e-mail?

É muito engraçado! Coloquei Michel Basquiat no meu correio eletrônico só para botar um nome e sem saber que seria notado por muitas pessoas. No entanto, aconteceu o contrário.

Então não teve influência por ser um artista bastante conhecido?

Não. Ou seja, coloquei porque gosto muito desse artista, sobre a sua vida e as coisas que conseguiu fazer em pouco tempo. Gostei da sua criatividade e mentalidade. Ele tinha a noção que ia ser um artista. Por isso Basquiat é um dos meus artistas favoritos.

Qual o tipo de técnica você mais gosta? Grafite, colagem, stencil ou sticker?

A técnica favorita é o spray. Mais gosto de fazer de tudo um pouco. Colagem ou lambe-lambe, adesivo (sticker), grafite e stencil. E o látex, principalmente como base de cor nos espaços para depois aplicar o spray.

Em alguns países a repressão policial é rigorosa com pichadores e grafiteiros. No Chile, também é assim?

Depende do policial. Se ele for uma pessoa compreensível não vai interromper o trabalho do artista. Caso seja o contrário, vai exigir pra que interrompa o que está fazendo.

Você já passou por alguma situação semelhante?

Aqui em Salvador aconteceram duas vezes (risos). Na primeira, o policial me perguntou se tinha autorização. Respondi que não. Ele reagiu dizendo-me que parasse e que seria melhor procurar trabalho. Na segunda, foi quando estava pintando em um muro “detonado” (várias intervenções) no Pelourinho. O policial falou que o local era patrimônio público e me levou para delegacia para tomar meus dados pessoais. Em seguida fui liberado.

Onde foi a sua primeira intervenção?

O primeiro mesmo foi em Nova Iorque. Aqui em Salvador comecei a pintar com mais frequência.

Então os espaços da cidade do Salvador estão sendo um campo experimental da sua arte?

Sim. A cidade dá essa liberdade para o artista expor sua arte.

Já esteve em outras cidades brasileiras?

Quando chegamos ao Brasil, eu e minha mulher Pinda, escolhemos para morar a cidade do Paraná, capital de Curitiba. Ficamos por um período de três meses. Como não conseguia emprego fomos para Ilha do Mel, no município de Paranaguá. Dei mais sorte por lá. Foi mais fácil conseguir trabalho. Ficamos nove meses na Ilha, um local pequeno e agradável. Depois decidimos morar em Salvador.

Como aconteceu sua integração com os grafiteiros soteropolitanos?

Meu primeiro contato se deu com o grafiteiro Limpo, através do e-mail dele em um dos seus trampos espalhados pela cidade. Depois foi com Marcos Costa. A partir daí fui sendo apresentando por amigos a outros artistas e participando de eventos artísticos, etc.

Você pinta sozinho ou com outros grafiteiros?

Ambos. Quando estou a fim saio sozinho à noite. Não gosto de ficar preso e depender da galera pra sair. Mas, também curto estar com outras pessoas e sair para pintarmos juntos.

Você às vezes usa o seu símbolo solitário ou agrupado. O que você pretende passar para a população?

Uma mensagem como lhe falei anteriormente: representar o povo. Agora, o desafio para mim é fazer de forma mais interessante, com aplicação de diferentes cores, colocando em sentidos contrários, separados ou juntos. Gosto de colocar o símbolo de diferentes jeitos. Criando variadas composições.

E a interação com outros artistas? Pode citar alguns?

Claro. Marcos Costa, Manoel Mariano, Kuza, Pinda, Limpo, Peace e diversos artistas nos mutirões de grafites. Isso é muito importante e significativo. Eu quero também que a galera goste, ou seja, o povo goste. Quem tiver olhando e achar legal eu fico contente.

Você já recebeu críticas ou elogios da população?

Já fizeram sim. Algumas pessoas dizem que está bonito. Outras comentam o que você está fazendo é pichação. Fico contrariado quando uma pessoa comenta que estou pichando. Nunca fui um pichador.

Você faz um estudo do local ou sai aleatoriamente para pintar?

Depende. Às vezes faço um percurso a pé identificando os melhores locais. Depois retorno para pintar. Ou então, já saio com o spray, vejo um espaço e vou pintando.

Os artistas de rua usam de uma estratégia para marcar o território deixando tags e pinturas inacabadas. Você usa do mesmo artifício?

Também. Claro que a ideia é marcar o espaço e retornar depois pra concluir o trampo.

Qual o motivo da sua vinda pra Salvador? Conhecer a cidade oufoi o espírito aventureiro de estar viajando por vários lugares?

Foi o espírito aventureiro. Na verdade foi uma iniciativa de Pinda. Já temos dois anos que estamos no Brasil.

Sua permanência em Salvador é definitiva?

Não. Pretendo retornar para o Chile entre Janeiro ou fevereiro do próximo ano.

Tem outras viagens planejadas?

Sim. Antes de retornar a Curitiba, quero ir a Chapada Diamantina e depois conhecer São Paulo.

2 comments for “Entrevista com o grafiteiro chileno Matias

  1. Zoe
    22 de dezembro de 2011 at 21:36

    Olá,

    Gostaria de entrar em contato com o Matias. Você tem uma direção? Grata, Zoe.

  2. Zoe
    22 de dezembro de 2011 at 21:35

    Olá,

    Gostaria de entrar em contato com o Matias. Você poderia me passar o contato? Grata, Zoe.

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