OFICINA DE GRAFITE EM SALA DE AULA

(No centro, à direita) Professora Carla Dias e o grafiteiro Thito lama

(No centro, à direita) Professora Carla Dias e o grafiteiro Thito lama

Num ping-pong com a A Arte na Rua a professora e diretora da Escola Estadual Classe I/Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), Carla Rocha Dias, destaca pontos importantes das atividades que um grupo de alunos vem realizando na oficina de grafite do Programa Mais Educação. Para ela, a escolha desse tema do programa, possibilitou a aproximação mais ainda do alunado. “A escola hoje tem um papel social muito importante, que é o resgate desses jovens das áreas de riscos e das más influências”, afirma.


Qual a sua formação?
Sou formada em Letras pela Uneb de Jacobina e Pedagogia pela Ufba.
Ocupa cargo na escola?
Há dois anos estou na direção da Escola Classe I.
Quais são os cursos existentes na escolar?
Ensino Fundamental II, pela manhã, Ensino Médio (Tempo de Aprender II) e Aceleração Escolar, à noite.
Qual é a proposta do Programa Mais Educação?
A iniciativa é do Governo Federal. Através do Ministério da Educação e Cultura implantou esse programa em várias unidades da rede estadual, com o objetivo de dar oportunidade ao aluno de permanecer o dia todo, ou seja, tempo integral na escola, desenvolvendo uma série de atividades. É importante lembrar, que a Escola Parque, unidade integrante do Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), já vinha aplicando um modelo parecido com atividades em tempo integral. Como a Classe I faz parte do CECR, nosso alunado pode freqüentar um período na escola e outro período na Parque. O Programa Mais Educação possibilitou ainda mais uma maior aproximação com o aluno.
O que impediu essa aproximação?
Quando a Escola Classe I foi construída na década de 50, idealizada pelo advogado, educador e escritor, Anísio Teixeira, os bairros do Pero Vaz e da Liberdade eram considerados uma fazenda. Era muito mais simples se deslocar até o bairro da Caixa D’Água, onde está localizada a Escola Parque. Não existiam tantos desvios, tantas ruas e becos. Com o crescimento urbanístico a escola ficou mais distante, dificultando o acesso e a permanência dos nossos alunos naquela unidade escolar. E há uma preocupação constante por parte dos pais. Eles ficam receosos e sabem que nessas áreas, além da violência, existem focos de tráficos de drogas. Por causa disso, alguns deles temem deixar seus filhos se deslocarem pelas Avenidas Peixe e Meireles. Esses locais são zonas perigosas, críticas e de riscos.
Os pais dos alunos participam do programa?
Sim. Existem pais que são monitores ou voluntários do Programa Mais Educação. Os familiares dos alunos estão mais interessados em deixá-los participar das oficinas.
Os alunos participam de outros programas?
Além do Programa Mais Educação, os alunos podem participar de vários projetos da Escola Parque.
Como surgiu a idéia de incluir a arte do grafite na programação de atividades da escola?
O grafite surgiu como um presente do Projeto Mais Educação. Entre as opções das oficinas, o grafite foi a nossa escolha.
Além do grafite, quais são as outras oficinas que estão em prática?
Hip-hop, Letramento (Leitura e Escrita), Produção de Textos, Literatura, Gramática, Matemática e Informática.
Quantos alunos estão na oficina de grafite?
30 alunos, entre meninos e meninas.
O programa está aberto para a comunidade?
Não. Nesse projeto só participa o alunado. O Programa Escola Aberta é similar, mas funcionou para a comunidade.
A Escola Classe I é pioneira nesse tipo de atividade?
Não. Isso foi uma proposta do MEC, mas nem todas as unidades escolares oferecem a opção do grafite. A Escola Classe I foi uma das que escolheu o grafite como oficina. Cada escola recebeu uma proposta com várias opções. Eu sempre gostei da arte do grafite e coloquei na primeira ordem.
Qual a sua opinião sobre o grafite?
Bem. Eu não sei se pelo motivo do professor Joseval Jesus Cardoso, mais conhecido como Thito Lama, que está ensinando ser uma pessoa especial, a verdade é que ele tem encantado o alunado. Eles vêem para aula dele e não querem mais ir embora. Se fizer a vontade, ficam até o início da noite. Tem sido uma experiência muito boa!
O grafite também se torna uma ferramenta de mudança de comportamento. Possibilita ao aluno perceber a diferença de uma obra de arte produzida com a técnica do grafite e o ato de pichar o patrimônio público. Esta sendo difícil mudar as atitudes de alguns alunos?
Com certeza. Essa também foi uma das minhas prioridades ao escolher o grafite. Nós percebemos que dentro da escola há muitos pichadores.
Mesmo com a oficina, acontecem pichações na área interna da escola?
Faziam e alguns ainda fazem. Mas, estes ainda não estão na oficina. Tenho certeza que haverá uma mudança de atitude desses alunos, a partir do momento das intervenções com pinturas de grafites que estão sendo feitas dentro da escola.
O grafite ainda é considerado por algumas pessoas como uma arte transgressora. Qual a opinião dos pais sobre a oficina?
Eles estão empolgados. Só não entendem muito bem o que é exatamente o grafite. Como é algo novo. Agora que a escola está decorada e dá para eles perceberem mesmo na prática o que é o grafite visualmente, entendo que é o  momento de convidá-los novamente e apresentar o resultado desse trabalho.
Está programada alguma intervenção com a participação dos alunos, por exemplo, a pintura do muro externo para mostrar aos pais, familiares e, também a comunidade, o resultado desse trabalho?
Já está reservado um espaço na parte externa do muro com esse objetivo.
Qual a mensagem deixaria para o alunado, pais e aos colegas?
Eu gostaria muito que a educação no país fosse levada a sério. Que os investimentos não fossem somente financeiros, mas investimentos humanos. Há uma carência muito grande de bons profissionais. A escola precisa da presença de um psicólogo. É necessário o retorno do orientador educacional. As escolas precisam de ajuda. Ela não é somente para passar o conhecimento científico. Hoje tem um papel social muito importante, que é o resgate desses jovens das áreas de riscos, das más influências. As escolas precisam de mais parcerias. Como essa do Programa Mais Educação.
JFParanaguá.

9 comments for “OFICINA DE GRAFITE EM SALA DE AULA

  1. 12 de março de 2013 at 18:48

    Gostaria de saber se vocês conhecem alguem que seja grafiteiro e possa doar um pouco de seu tempo para estar ensinando nossas crianças? Sou moradora do Rio de Janeiro, sei que o projeto que estou montando ele pode no futuro dar grande frutos.

  2. Rita de Cassia Araujo Lopes
    7 de junho de 2012 at 11:01

    Olá, bom dia!
    Sou professora de uma escola estadual que está passando por um processo de mudanças. Eu como professora de artes quero muito trabalhar com eles o grafite, mas não sei ao certo como calcular a quantidade de material usado. Meu projeto é revitalizar a escola e colorir a mesma com grafites feitos pelos alunos que são muito bons. Peço, se possível, que você me oriente como fazer o cálculo do material a ser utilizado.
    Obrigada e parabéns pelo seu trabalho.

  3. EVANILDA ALVES PEREIRA
    10 de novembro de 2011 at 22:56

    Sou coordenadora do Programa Mais Educação na minha Escola, onde são atendidas 100 crianças passando por 6 modalidades. Parabenizo as escolas que estão na luta pelo sucesso dos nossos educandos. Escola Liceu Diocesano de Artes e Oficios- Crato Ceará.

  4. Raquel
    9 de junho de 2011 at 14:25

    Adorei o trabalho. Sou coordenadora do projeto em minha escola e começamos a oficina de grafite.Gostaria de saber qual o tipo de tinta que vocês usam para grafitar os muros?
    Aguardo resposta.
    Grata.

    • 22 de fevereiro de 2014 at 10:56

      Sou graffiteiro e educador, na maioria das vezes são spray, msm e latex! uma boa dica é uma marca nacional chamada Nou, a tinta é desenvolvinda prá graffitar msm! é excelente!!!

      • 22 de fevereiro de 2014 at 13:30

        Kaka Martins, obrigado pela passagem pelo blog. Valeu a dica!

  5. leane giuliani
    27 de janeiro de 2011 at 20:19

    Sou supervisora numa Escola Estadual do RS, em férias na Bahia.Como vamos iniciar Educação Mais, gostaria de visitar essa escola pra troca de experiência. Ja temos turno integral até o 5°ano. Aguardo retorno.Leane

  6. Fernanda Santos de Melo
    23 de novembro de 2010 at 20:10

    Sou professora da Rede Municipal de Salvador e estou encantada com o trabalho de vocês. A escola que sou lotada atualmente está promovendo para 2011 oficina de grafite e gostaria muito de poder contar com o apoio de vocês.

    Desde já grata.

    Fernanda Melo.

  7. Nahara Silva
    21 de novembro de 2009 at 23:54
      Uns dos meus melhores momentos foi passado nessa grande escola…………….. Momentos inesqueciveis!!! Saudades!!!

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